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Consciencia

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kingthethird's avatar
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- Haja luz! "Click" - E houve um facho. Trazido na ponta do dedo. É truque? É mágica? É um mistério! Na força do desejo e de um século de avanço, clique e eu me vejo. Vejo a poltrona. Vejo a janela. Vejo o silêncio. Vejo o desconhecido. Ou é ele quem me vê? Ou é a luz quem me lança os olhos amarelos? Constrange-me. Ela irrompe na escuridão. Irradia três palmos de jaqueta e pares de calças jeans. Tão tímida quanto singular. Ela vê no canto dos bolsos. Debaixo da saia. No alto da cabeça. Vê demais. Sabe de menos.

- "Click" - Breu. Tudo é o mesmo. Tudo é nada. Em boca fechada não entra mosca. Tarde demais. As trevas são capuz grosso à nudez. Debaixo não há pudor. Minhas vergonhas se misturam ao rapaz que está sentado ao meu lado, roncando num sono profundo há meia hora. Ali sou um pouco mais ele. Ele é um pouco mais aquela. Tenho nojo.

A viagem segue. O ônibus desliza na pista. É leve o caminhar. As cortinas fechadas nos enclausuram dos demônios de fora. Guardiãs de pano. Quem dera eu levasse um par nos olhos. Mas um morcego sempre escapa. A escuridão me aperta a mão, abraça e dá um beijo. Veste terno, gravata e um vestido vermelho. São inimigos: dois, dez, mil. Um em cada poltrona. Dez em cada palanque. Mil em cada país.

Saudei o espelho hoje de manhã, antes do café. Meti a faca do pão no ventre do outro lado. Rasguei das tripas à boca. Deixei aberto às moscas, enquanto ainda eram seis e a xícara metade preta. Antes do almoço eu remendava com enxerto de língua e preguiça, tentando recordar a última digestão que tive.

umdoistrêsquatrocincoseisseteoitonovezero - dia.

Um globo de caco e caos, descendo os degraus do porão. Sou uma criança pequena demais para me atrever a ir lá sozinha. Enfio o dedo na boca, viro as costas e volto à sala, mas sem choro. Ainda em tempo de acenar e passar maquiagem.

- “Cof, cof” - Tusso de seco. Na garganta o espinho arranha - Inspire... expire... inspire... expire... - A tabuada da sobrevivência. Um som rasga pela noite. Range os cantos. O teto desce. Cheiro de mofo. A torneira na última fileira pinga. Gota. Ouço. Gota. Temo.

- "Click" - Um berro. Estão todos nus de pele. Os ossos se derramam pelo chão. É deserto. O sol grita a luz e assassina o ouvido. Cego. Surdo. Mudo. Ignorante! - Dor e gemido. Enfio a mão na luz, atravesso com o braço, mordo o crânio ao meu lado. Epifania.

São dez e meia, chego ao destino.

[Del Vechio Cavalhieri]
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